Estava aqui olhando a lista anual de trabalhos vencedores do festival de Cannes deste ano (Cannes é o maior festival de publicidade e criatividade do mundo). Entre ideias superfaturadas por videocases que quase sempre são iguais, não há de se negar que ali tem muuuuita criatividade.
É legal se deparar com coisas criativas, né? A virada inesperada no roteiro de um filme, uma propaganda de 30 segundos mas que te faz gargalhar, uma frase pichada que chama a sua atenção para algo novo. Em momentos assim é comum aparecer um pensamento na nossa cabeça: “Nossa, eu jamais pensaria nisso.”
Será mesmo? Eu sou da opinião que vocês que estão aqui lendo essa news poderiam ter tido 90% das ideias que foram premiadas em Cannes esse ano.
Por quê eu acho isso? Bem, porque em 90% dos trabalhos nós temos conhecimento de todos os elementos que fazem parte da ideia (10% usam tecnologias que só quem é da área mesmo para conhecer, e eu me incluo fora dessa). Elas não lidam com coisas que nunca vimos ou conhecemos. Elas lidam com elementos banais, rotineiros, mas que ganharam um novo uso ou um novo contexto. Essa campanha da Mercedes-Benz, por exemplo, se utiliza de ideias que nós aqui tudo conhecemos: a gente sabe que existem músicas que usam o nome da marca e a gente sabe que rádios passam músicas. Logo, fazer esse link (passar por um dia somente músicas que citam o carro alemão) não é impossível para nenhum de nós. Essa da Coca usa letreiros feitos por pessoas comuns que todo mundo aqui já viu, e usar isso nas latas não é uma conexão impossível de imaginar. Essa da JCDecaux transformou uma simpática senhorinha em celebridade. Fazer uma pessoa desconhecida bombar não é nada desconhecido para a gente.
Criatividade é usar a imaginação para combinar elementos que já estão dentro do nosso cérebro. Vocês conhecem os elementos e vocês possuem a capacidade de imaginar. Vocês só não tiveram essas ideias porque provavelmente esse não era o trabalho de vocês. Esses briefings caíram para outras pessoas. Ou vocês não são nem da publicidade. Mesmo assim, não importando a área de atuação, acredito fortemente que se vocês tivessem tempo suficiente, essas ideias super poderiam nascer.
Vejam bem, eu não quero desmerecer as ideias. Elas são ótimas, e muito bem executadas também. Eu quero é desmistificar a criatividade como esse obstáculo insuperável e possível apenas para um seleto grupo.
Na próxima vez que se depararem com a criatividade humana, não pensem “jamais pensaria nisso” ou “não sou uma pessoa criativa”. Nós todos temos a capacidade de combinar aquilo que conhecemos de uma maneira diferente através da imaginação. Se esse fosse o trabalho de vocês, vocês focassem nisso e tivessem tempo suficiente, vocês teriam pensado em cada uma delas. Respondam para o cérebro chato e julgador de vocês: “relaxa, eu não tive essa oportunidade para usar minha criatividade”.
Ou vão me dizer que tiveram?
Espero que gostem dos links:
Calma gente, está tudo certo.
O celular deve ser banido de crianças e adolescentes?
Como uma privada está abalando Hollywood, ou como a indústria do cinema e TV hoje buscam agradar apenas ao algoritmo.
Tenho muita curiosidade pelos países “perdidos” que existem na gigantesca Rússia, lugares completamente diferentes do padrão-Moscou que conhecemos. (Gabe Britto, se você tá lendo, saudades da tua série Planetovski hahaha). Para quem tem essa mesma pira que eu, Eli from Russia documenta bem como é a vida nesses lugares.
E já que o assunto é viagem, curto muito o Rafael Souza em suas aventuras e perrengues pelo continente africano: Isso o mundo não mostra.
A barbárie retratada pelo “O senhor das Moscas” realmente mostra a verdade? Um belo estudo sobre a bondade humana.
A próxima news é a edição número 100 😮
Vocês gostariam de ver uma lista separada por temas do que já rolaram?
<3
por isso gosto do conceito do Murilo Gun de combinatividade: vc usa coisas que já conhece para criar coisas novas.