As coisas que vêm e passam
Vocês lembram quando eu tive câncer? E tive que fazer quimioterapia e enfrentar toda essa saga que é se curar de uma doença assim?
Vocês lembram quando eu tive câncer? E tive que fazer quimioterapia e enfrentar toda essa saga que é se curar de uma doença assim?
Caso você siga essa newsletter a menos de dois anos, talvez você não tenha vivido esse momento comigo e não sabe muito do que estou falando. Mas isso aconteceu. Câncer. I’m fine now, thanks for your concern :)
Voltando aos antigos seguidores, não parece que isso faz uma década? Ou que nunca aconteceu?
Nossa, às vezes até eu me surpreendo que a doença rolou e foi real e mobilizou tanta gente. Câncer maligno, quimioterapia, incertezas. Mas né, aconteceu. E de vez em quando essa memória vem. Já me acostumei com isso.
Só que uma semana atrás, li um livro que me fez voltar àquela época como nunca havia acontecido. Era o livro da Claudia Etchepare, De Cara Com a Fera, onde ela conta como foi seu processo de vencer um câncer na garganta. Desde o diagnóstico até a percepção do que o câncer mudara em sua vida, ela conta num relato bem sincero e informal como transformou “a fera em um passarinho”.
História muito mais punk que a minha, câncer muito mais invasivo. Mesmo assim, bateu. Os mesmos efeitos colaterais, os mesmos medos, as mesmas dúvidas, os mesmos devaneios, as mesmas situações, a mesma epopéia (ainda tem acento nessa palavra?).
Nunca tinha chorado lendo um livro. E chorei afu. Me emocionei real. Me via nas palavras dela. Cada capítulo do livro me fez reviver um pouquinho daqueles 5 meses que até hoje fazem parte da minha rotina.
Lembrei que teve uma época que minhas mãos ficaram muito sensíveis por causa da medicação a ponto de ser mega dolorido o simples ato de girar uma chave na fechadura. Peguei o hábito, que até hoje faço, de não chavear a porta de casa quando entro nela. Apenas trancar a tranca interna (doía menos mexer só nela).
Lembrei que o tédio, nos dias de muito enjôo (aqui acho que o acento caiu né?), eram horríveis. Pois eu não tinha força pra fazer nada. Nem pensar em algo era viável. Pensar cansava. Eu só existia.
Lembrei de não sentir o gosto da comida.
Lembrei de mensagens que recebia de pessoas queridas, mas não tinha força pra responder com o devido texto ou número certo de emojis.
Lembrei que fiquei de ler livros e ver filmes “pra caralho”, algo que nunca aconteceu. Segurar um livro era cansativo demais kkk
Lembrei das Olimpíadas, um fato positivo que rolou, pois tive algo legal pra assistir por um mês inteiro. Vi da luta greco-romana ao pentatlo moderno.
Lembrei que foi uma época dureza. E que hoje as coisas estão muito diferentes. Hoje tenho uma namorada maravilhosa, estou mais perto da minha família, me conheço melhor como pessoa, minha empresa vai bem e estou num apartamento 74 mil vezes melhor que o antigo.
O que quero dizer com tudo isso? As coisas passam.
O pior dos dias da sua vida tem apenas 24 horas. Nenhum dia tem mais que isso, seja ele bom ou ruim. Assim como nenhum mês tem mais de 31 dias e nenhum ano tem mais que 366 dias (sim, anos bissextos tem 366 dias). O tempo passa. As coisa mudam.
Então, se você está numa boa, numa época feliz, celebre, comemore, aproveite o momento. Não no sentido de ir encher a cara e festejar. Apenas observe, curta. Dê importância para as coisas ao seu redor. Ou encha a cara também, se for o caso. Você nunca sabe o que o universo pode te trazer amanhã (não querendo zicar ninguém aqui).
Mas se você está num momento ruim, saiba que um dia vai estar olhando pra ele e celebrando as mudanças que aconteceram desde então. As coisas vêm e passam.
Feliz ano novo e que vocês tenham o melhor 2019 possível dentre todas as possibilidades que existem. E se não acontecer, faça o que você tem que fazer e relaxe, pois ele vai passar.
Já está passando.
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