As novas normalidades da vida
Hoje vou falar sobre uma epifania que eu tive no início do ano. Mesmo alguns meses depois de ter acabado a quimio e eu já estar curado e…
Hoje vou falar sobre uma epifania que eu tive no início do ano. Mesmo alguns meses depois de ter acabado a quimio e eu já estar curado e vivendo de boas, alguns sintomas do tratamento continuam em mim.
E a minha reação a essa situação era: “assim que isso passar vou voltar ao normal e fazer as coisas que eu fazia e queria fazer. Vou voltar a correr, a fazer academia, sair mais, etc etc.”
Mas os sintomas não sumiam, e eu ia deixando tudo pra depois. “Acho que semana que vem vou estar 100%. Acho que semana que vem vou estar 100%.” Assim eu ia indo, esperando eu ficar 100% normal. Até que um dia rolou um voz interna: “Braga, esse é o teu normal agora”.
“Ué”, eu mesmo respondi pra mim mesmo. Fazia sentido. Eu estava apenas num desejo de voltar ao normal, mas sabia que talvez o normal como eu conhecia não existia mais. Péin, epifania. Esse era meu normal agora e eu tinha que abraçar ele. Me aceitar e seguir em frente.
Escrevi bem grande na minha janela “this is yout normal now” (em inglês porque tudo fica mais bonito em inglês né?) pra todo dia me acordar e me lembrar disso.
A partir desse dia comecei o treino funcional que minha nutri estava me pedindo, voltei a correr, surfei, fiz mais festas, arranjei uma bike e parei de usar pra mim mesmo os sintomas como desculpa pra não fazer algo.
Eles ainda estão em mim e vão demorar um tempo pra sair, mas eu já entendi que eles fazem parte de quem eu sou hoje. Aceitar isso me fez mais feliz com todo o processo. Foi quando parei de ficar choramingando comigo mesmo e voltei a realmente viver normalmente.
Acho que isso acontece bastante em vários momentos da nossa vida. A gente meio que odeia mudanças que não planejamos, e estamos sempre tentando voltar para um estado normal das coisas. Perder um emprego, acabar um relacionamento, quando alguém que a gente gosta começa a namorar e se distancia da gente ou vai morar em outro lugar.
Existem várias situações que a gente não aceita a mudança, o que nos leva a guardar um rancorzinho ou mágoa ou chateação ou nostalgia ou esperança falsa. Isso nos trava e nos impede de viver pra frente, olhando pro futuro e não pro passado. O tempo só anda pra frente, ficar esperando algo voltar pro seu normal é uma armadilha que só nos trava e nos deixa infelizes.
O budismo fala que o desejo traz sofrimento. Logo, desejar que algo que não tem como mudar, ou seja, os fatos, o passado, é dar as mãos para o sofrimento e deixar que ele guie sua vida.
Nos últimos tempos eu aprendi que as coisas mudam. Não que eu não sabia disso antes, mas eu não sabia tanto como agir quando a mudança chegava.
As coisas mudam e não há nada que eu possa fazer pra isso. Quer dizer, tem uma, que é aceitar que essa mudança existe e abraçar os novos “normais” que surgem. Desse jeito eu posso ter mais empatia com o amigo que eu tenho visto pouco, deixar de remoer um relacionamento antigo e trabalhar para fazer do agora o melhor possível.
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