O meteoro que veio para ficar
O meteoro veio para ficar. E como manda a etiqueta dos cataclismas, não avisou da sua chegada com muita antecedência. Assim que foi…
O meteoro veio para ficar. E como manda a etiqueta dos cataclismas, não avisou da sua chegada com muita antecedência. Assim que foi descoberto, cientistas divulgaram o número de dias até o impacto: 23. O local do impacto? Alemanha. Previsão de destruição completa do continente.
Em um caso raro de cooperação e agilidade, foi criado um comitê de líderes de todos os cantos do globo. Eles entraram em reunião numa manhã fria de segunda e só saíram de lá 31 horas depois, quando chegaram no acordo que selaria o destino de toda a população europeia.
Com a provável devastação do subcontinente, continuar a ocupar aquele espaço não era uma opção, e as pessoas à frente do comitê tinham ciência disso. A discussão buscava encontrar a logística adequada e as contrapartidas necessárias.
Depois do demorado encontro, um pronunciamento do comitê compartilhou a solução com o resto do mundo. A população europeia e de seus arredores seria dividida e acomodada dentro de outros países mundo afora.
Houve muita crítica de alguns meios de comunicação e grupos nacionalistas, mas a decisão era irrevogável e não havia mais espaço para negociação. Isso porque o comitê era formado pelas pessoas que tinham o poder para tirar do papel o que quer que fosse decidido.
800 milhões de pessoas começaram então a ser catalogadas e alocadas em diferentes lugares do planeta. A decisão de onde cada grupo iria se baseava em vários fatores. Língua, religião e costumes definiram o destino de diversos povos. Outros foram escolhidos pela sua ambientação com o clima. Colocar um finlandês em um deserto não daria muito certo.
Países com territórios ultramarinos tiveram a decisão facilitada, acabando “dentro” de suas próprias terras. Mesmo assim, alguns destinos eram bem diferentes da abundância europeia, e pequenos choques de realidade aconteceram.
As cidades fantasmas da China finalmente ficaram cheias de vida. Destinos de ocupação sazonal agora estavam repletos de gente mesmo fora de estação. Imóveis desocupados à espera de um aluguel viraram refúgio para milhares de pessoas. Airbnb e similares atingiram suas capacidades máximas.
O mundo assistia chocado e maravilhado à agilidade da maior migração já realizada na história do universo conhecido. Todas as marinhas e companhias aéreas ajudaram de alguma forma. Mas além das pessoas, foi necessário também achar novos hábitats para os animais que corriam perigo.
Depois de um trabalho intenso de caça e captura de toda fauna europeia, Arcas de Noé modernas levaram as criaturas para seus novos lares. Animais com risco de extinção ficaram em observação, enquanto os demais foram apenas soltos em outros biomas. Nem tudo possuía uma solução perfeita.
Se todo esse movimento já era incrível, o que se sucedeu foi ainda maior: teve espaço para todo mundo. Os refugiados europeus não ficaram à porta de alfândegas, em zonas neutras e tampouco desassistidos. Todos eles tinham onde ficar, e tirando poucos incidentes, estavam seguros e bem acolhidos.
Foi nesse clima de comunhão humana que a Terra recebeu o objeto do espaço. Um som jamais antes ouvido pela humanidade ecoou em todos os continentes, relembrando e reafirmando o propósito de todo aquele empreendimento.
Já o silêncio pós-impacto nunca falou tanto. A Europa foi devastada exatamente como previram os cientistas. Ruas, campos, rios, lagos e montanhas onde a história havia sido escrita viraram pó. Catedrais, prédios, ruínas, monumentos, tudo desapareceu. Não houve tempo para salvar a Torre Eiffel, não houve tempo para salvar o Vaticano. Se não cabia em um avião, ficou de fora.
A nuvem de poeira ficou anos pairando sobre a região do impacto e a Europa virara um ambiente inóspito. Ninguém queria voltar lá, pois o custo de recomeçar do zero era muito alto. A vida havia de seguir com um continente a menos.
Mas isso apenas para os seres humanos. Enquanto o mundo buscava uma forma de lidar com tsunamis e erupções vulcânicas provocados pelo impacto e com a nova formatação dos países, a vida na Europa foi voltando aos poucos. Sem pessoas, os animais se aproveitaram e repovoaram o que conseguiram, mesmo sob as nuvens de poeira.
O tempo passou e a poeira baixou. Florestas brotaram imponentes, atraindo a vida selvagem para o “continente livre”. A humanidade observava tudo isso, e a cada ano que passava o encantamento pelo que surgia aumentava.
Animais foram devolvidos às suas regiões nativas e se readaptaram rapidamente. Aqueles ameaçados de extinção logo estavam fora de perigo, enquanto outras espécies vinham de outros lugares encontrar abrigo das pessoas. O aquecimento global diminuiu e biodiversidade da Terra voltou a crescer.
Assim, quando o mundo se acalmou e o futuro da Europa e do povo europeu finalmente voltou para a pauta mundial, o foco era outro. Ao invés de pensar em soluções para repovoar a região, a pergunta da vez era ”como criamos essa abundância nos outros continentes também?”
O meteoro veio para ficar.
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