Um ET no meu quarto
O dia era 9 de janeiro. Eu tinha recém voltado de um recesso familiar de 15 dias onde fiquei de bobeira na praia e não fiz sequer festa.
O dia era 9 de janeiro. Eu tinha recém voltado de um recesso familiar de 15 dias onde fiquei de bobeira na praia e não fiz sequer festa.
Quando voltei, dia 8, tirei o dia pra arrumar minha casa e na noite do dia 9 deixei pra botar no papel meus planos para 2017.
Colei post-its pela casa, tirei uns adesivos do meu mural e coloquei lembretes na minha agenda.
Deitei cansado, mas por estar dormindo a muitos dias tarde da noite, o sono não veio. Lá pelas 3h da manhã, desisti de tentar dormir e botei uma Courtney Barnett pra tocar. Deitei de barriga pra cima e fiquei viajando, de olhos fechados.
Vocês sabem como é essa sensação né? Na cama, viajando, vem de tudo. “O que vou almoçar amanhã? Saudades de jogar futebol. Será que tem algum jogo bom do campeonato inglês essa semana? Quantos jogos de futebol já devo ter visto? E se eu tivesse lido livros ao invés de ver todos os jogos? Bah nada a ver. Eu leio bastante até. Você só pode viver cada dia uma única vez, então é melhor aproveitar ele da melhor maneira possível.”
Só pra dar algum contexto, essa última frase eu vi no último livro que havia lido.
“Será que essa frase serve pra todos os dias? E os dias que você só quer ficar no sofá vendo qualquer merda e não interagir com ninguém?”, pensei eu. “Bem, mas se tu, sempre que pode, aproveita da melhor maneira, ter dias para ser um pastel e ficar no sofá é uma forma de recompensa. Pode crer. Faz sentido. Amanhã farei meu melhor. Cadê meu sono?”
No meio do pensamento, uma luz se acende. Sinto uma luminosidade através das minhas pálpebras. Sabe quando tu tá de olhos fechados e alguém acende uma luz? Dá pra perceber né? Mesmo de olhos fechados. Foi isso que aconteceu.
Achei estranho, porque minha janela tava fechada, meu celular com a tela pra baixo. Nenhuma luz poderia ter acendido no quarto sozinha. Todo esse pensamento durou milésimos. Abri o olho de supetão e tomei o maior susto da vida quando olhei pro canto do quarto e vi uma luz azul saindo da parede.
Meus olhos demoraram pra se acostumar com a luz, e quando se acostumou foi que vi: um ET estava no meu quarto.
Mas não era exatamente um ET. Era o holograma de um ET. Todo azul e tal. Ele estava quieto, e, assim como um boomerang do Instagram, ele mexia-se em loopings. O movimento era mais suave e o loop durava mais que no Insta, talvez uns 7 segundos, mas depois de 3 loops percebi o padrão.
O mais bizarro é que ele parecia o Andy Bernard, do The Office. Ed Helms pra quem sabe nomes de atores.
“Uéééééééééé” era só o que se passava na minha cabeça.
Meus olhos foram se acostumando um pouco mais e foi aí que percebi que era um ET (caso alguém estivesse se perguntando como eu sabia disso). O pescoço era mais longo que o normal, a pernas mais grossas e curtas. Ele parecia um velociraptor que foi transformado em humano através da evolução. Mas a cara era de feições humanas. E parecia o Andy. As roupas eram muito estranhas também, nem sei como detalhar elas.
- Você quebrou a Matrix.
Ele não falou isso. A voz dele simplesmente entrou na minha cabeça. Como um pensamento em outra voz que não a minha. Aí percebi que não era pegadinha de ninguém, pois essa tecnologia ainda não existe que eu saiba.
Vou colocar a conversa que se passou usando travessões apenas para ficar mais fácil de entenderem, mas tudo falado aqui surgiu como pensamentos na minha cabeça. Os meus eram na minha voz, as respostas dele eram numa outra que não sei explicar.
- Uéééééééééé — pensei eu.
- Você agora desbloqueou uma nova habilidade para viver. Sua vida será mais feliz, você se importará menos com pequenos problemas…
- Daonde ele tem a referência do Matrix?
- …perderá menos tempo discutindo sobre qualquer assunto, aproveitará cada instante com maior intensidade…
- Será que existe uma Matrix mesmo?
- …jamais olhará o celular para ver se uma nova mensagem chegou no meio de uma conversa, emitirá felicidade a quem andar com você…
- Existem outras dimensões?
- Por que me interrompes?
- Eu não queria, mas esses pensamentos tão aparecendo na minha cabeça.
- Um dia saberá.
- Você é mesmo um ET?
- Não posso afirmar.
- Que outras formas existem para quebrar a Matrix?
- Eu devo continuar a listar seus benefícios futuros.
- Ok ok.
- Você agora…
No meio da listagem dele sobre coisas que eu havia desbloqueado, me veio um pensamento intrigante. “Mas o que será que eu fiz? Nos últimos tempos tenho estudado muito sobre filosofia, como ser uma pessoa melhor, alimentação saudável, descobri como montar um cubo mágico. Será que foi por alguma coisa dessas? Foi porque comecei a comer brócolis? Ou porque tirei o som do meu whatsapp?”
Ele interrompe sua “falação”.
- Vejo dúvidas vindo de sua mente. Não sabes aquilo que fez?
- Bah eu não faço ideia.
- Um movimento não consciente demonstra ignorância, acaso. Não podemos deixar o conhecimento universal à mercê da sorte.
- Uééé. Que porra eu fiz? Ah, se ele apareceu hoje é porque deve ter sido por algo que fiz hoje! O que fiz hoje? Não comi brócolis… droga. Trabalhei o dia todo, não fiz nada de especial. Será que foi ter colocado minhas metas do ano no Wunderlist? Certeza que não. Ah, hoje aprendi coisas novas sobre astrologia. Será ela a chave do universo?
- Pode ser, pode não ser.
- Geminiano!
- Boa sorte com a sua jornada. Adeus.
A luz sumiu instantaneamente.
“Será que foi certo acusar ele de geminiano? Acho que preciso estudar mais”, foi o primeiro pensamento que me veio.
Voltei a deitar a cabeça no travesseiro. Percebi que a música não tinha parado durante a conversa toda. Desliguei o celular. Fechei os olhos.
Depois de duas horas deitado, acordado e digerindo o que acabara de acontecer, decidi parar de pensar naquilo que poderia quebrar a Matrix. “Foda-se.”
Fechei os olhos e respirei fundo. Passou. Amanhã busco no Google sobre o que rolou. Deve ter algo sobre isso no Yahoo Respostas. Meu cérebro então relaxou e voltei a pensar no que faria no outro dia. “O que eu estava pensando mesmo? Ah sim, todo dia é um só e amanhã farei meu melhor.”
No meio do pensamento, uma luz se acende.
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