“Transformar o ambiente de trabalho em algo mais residencial e doméstico é perigoso. É esperto, sedutor e perigoso. É enredar os empregados, dizendo que eles vão ter tudo o que desejam, como se aqui fosse a sua casa, e o perigo é que isso apaga a diferença entre o lar e o escritório.”
Essa frase é de Clive Wilkinson, arquiteto responsável pelo Googleplex, a sede super descolada e bacanona do Google, na Califórnia. Anos depois de ter construído o que hoje é uma referência de espaço inovador de trabalho, hoje ele diz que se arrepende e tem advogado por uma melhor separação entre vida pessoal e profissional, e o papel que os ambientes corporativos têm nesse assunto.
O argumento dele é que as empresas, ao criar escritórios que não parecem escritórios, podem estar atrapalhando a busca das pessoas pelo tão sonhado equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
Falei esses dias sobre como o WhatsApp pode borrar as linhas que separam a vida pessoal da vida profissional e sobre os problemas das empresas que se autodenominam “famílias”, então esse é um assunto que tem me interessado. Mas nunca tinha pensado sobre os ambientes físicos.
Eu concordo com essa visão do Wilkinson. E isso me faz ir além dentro desse devaneio.
Se o uso do WhatsApp, se o rótulo de “família” e se escritórios que não parecem escritórios podem causar esse borrão nos limites dessas duas esferas das nossas vidas, será que trabalhar de casa não destrói quase por completo essa separação, por menor que ela seja?
Ainda acho que o trabalho remoto possui centenas de vantagens sobre o trabalho presencial. Mas como fica a cabeça de quem não tem espaço para chamar de seu em casa e precisa almoçar na mesma mesa em que trabalha? Ou quem tem uma escrivaninha improvisada dentro do seu próprio quarto? Quão ruim é para a nossa saúde mental essa mistura das duas esferas?
Não tenho respostas para essas perguntas, mas fiquei com uma pulga atrás da orelha e vou tentar dar atenção pra isso nas minhas elucubrações.
O que vocês pensam sobre?
Espero que gostem dos links:
Tentando se recuperar de um burnout enquanto trabalha.
Lições do espelho: a autoanálise como forma de reflexão.
Eu queria ter um pôster com essa frase na minha casa para me lembrar mais vezes dessa ideia.
Vocês podem vencer desafios difíceis, e aqueles cálculos chatíssimos de matemática que vocês certamente fizeram na escola são uma prova disso.
Em dias de aquecimento global, chegou a vez da gente se perguntar: como podemos resolver o paradoxo do ar condicionado?
Elogio que é elogio, acaba nele mesmo, e não com uma introdução para um pedido.
“Não fale a menos que você possa melhorar o silêncio.” — Jorge Luis Borges
<3
muito boa a reflexão. ainda que eu goste muito de ficar em casa e tenho um "escritório", não gostei da experiência home office porque me sentia invadida (aqui pode entrar muitas outras questões como cobranças, abusos, etc), pode ser que em outras empresas a experiência seja diferente.
mas, o que mais me incomoda nessa questão de separar vida pessoal e o trabalho é sem dúvidas a questão do whatsapp. minha vontade é imprimir 1 milhão de cópias da sua news e mandar como as cartas de hogwarts até as coisas mudarem, haha.
aaaa chegamos no nosso tema preferido! é óbvio que temos que estar confortáveis pra trabalhar (e isso pode representar coisas diferentes pra cada um), mas ainda assim algumas atividades ficam restritas à esfera trabalho, enquanto outras são puramente lazer.
no @tanoverso são muitas as possibilidades de trabalho, por exemplo (próximo à natureza, em poltronas no sol, salas privativas e espaços criativos) - mas cortar a unha do pé na copa não dá (e já aconteceu).
ainda é necessário noção, tanto dos gestores quanto dos profissionais.