Ali em 2020, o Bite Back, um movimento jovem que luta por uma alimentação mais saudável no Reino Unido, realizou um experimento para demonstrar para a sociedade como os anúncios das empresas de junk food afetam as pessoas.
O movimento convidou voluntários para comparecerem a um restaurante, onde deveriam escolher uma comida em um cardápio com cerca de 50 opções. Porém, desde o momento que esses voluntários escolheram participar do experimento, eles começaram a ser bombardeados com propaganda e mensagens subliminares que ressaltavam um prato chamado "Triple dipped chicken".
Anúncios nos muros da cidade, posts nas redes sociais, publicidade direcionada dentro do táxi. Por onde eles passaram, o franguinho aparecia de alguma forma.
O resultado foi que TODOS os participantes do experimento pediram o "Triple dipped chicken" na hora de escolher uma comida no menu. Todos. Aqui o vídeo contando essa história melhor do que eu.
Mas né, esse efeito gerado pelas propagandas não foi uma invenção dessa gurizada inglesa. Existe até um termo para isso e ele foi criado na década de 70: chama-se Priming. Perguntei para o meu bruxo GPT o significado de Priming e olha o que ele respondeu: A teoria de priming refere-se a um fenômeno psicológico no qual a exposição a um estímulo influencia a resposta a um estímulo subsequente, sem que a pessoa tenha consciência dessa influência. O conceito é baseado na ideia de que a ativação de certas representações ou associações na memória podem afetar nosso comportamento ou julgamentos subsequentes.
Daniel Kahneman, estudioso da economia comportamental e vencedor do Nobel de Economia em 2002, fez vários experimentos que comprovaram o funcionamento dessa técnica. Em uma delas, por exemplo, ele mostrou que pessoas que foram expostas a palavras como “vida”, “força” e “energia” atravessaram um corredor com mais velocidade do que pessoas que foram expostas a palavras como “tristeza”, “escuro” e “cansaço”.
Basicamente, o nosso cérebro recebe estímulos que a gente não percebe, e esses estímulos moldam nosso comportamento. É com base nisso que as propagandas, o design dos corredores de um mercado, o roteiro de programa de auditório e a vitrine de uma loja funcionam. E isso não é nenhuma novidade.
Mas, mesmo não sendo novidade, essa história do Bite Back mexeu comigo. Dias atrás, quando descobri sobre esse experimento lendo o livro Badvertising, fiquei pensando sobre quão livres e nossas são as escolhas que tomamos.
Se em todos os lugares que olhamos existem estímulos ocultos, seja uma propaganda tradicional, um merchan dentro de uma série ou um influencer com sua publi disfarçada, será que aquilo que a gente faz é algo que a gente realmente queria fazer ou algo que fomos levados a fazer?
A comida que a gente ficou afim de comer, o tênis que estamos a semanas querendo comprar, a mesa perfeita para nossa sala de estar, a camiseta que compramos no impulso ou a sede de um refrigerante. Tudo isso são escolhas nossas ou escolhas “plantadas” dentro do nosso cérebro?
Como nós estamos o tempo inteiro vendo anúncios, nós estamos dentro de um experimento o tempo inteiro? O experimento das bets, o experimento do fast-food, o experimento da agência de viagem, o experimento da moda?
Seremos nós, pessoas presas dentro de um grande experimento chamado publicidade?
Espero que gostem dos links:
A amizade se tornou outra coisa triste de se fazer em uma tela de celular.
Indo na linha do grande experimento da publicidade, o algoritmo mata a criatividade?
A geração Z tem futuro? Um papo legal com um estudioso da saúde mental dos jovens com o ator que fazia o Dwight no The Office.
Ainda sobre os jovens: mediram a capacidade criativa na resolução de problemas e o Brasil ficou entre os 12 piores resultados.
A inovação social do homem que cuida.
Sobre não existir uma política que concede o direito à moradia de forma incondicional: “Hoje em dia, todo mundo nasce com um tipo de dívida existencial. A partir do momento em que você surge no mundo, você está em um espaço que pertence a outra pessoa, e a partir daí, é preciso gastar dinheiro a cada dia para ter acesso ao espaço que você precisa para existir.”
”People try to do all sorts of clever and difficult things to improve life instead of doing the simplest, easiest thing – refusing to participate in activities that make life bad.” — Leo Tolstoy
<3
show... agora vou ficar pensando se estou pensando mesmo ou se é publi mental hahahahahaha
claro que algumas coisas eu já sabia, também estudei sobre na faculdade, mas de fato, temos que antes de fazer qualquer coisa, parar e pensar se é realmente isso que queremos ou se é só essa influência (muitas vezes é só influência mesmo hehehehe). Luciano sempre trazendo bons questionamentos...
Mexeu comigo também. Socorro! É ótima curadoria de links, gostei especialmente do vídeo com a Camila Coutinho: “ser curioso é o que vai salvar a cultura”. ♥️